Por enquanto é um estranhamento.
Uma coisa que deixou de estar aqui.
Um quadro torto entre os alinhados.
Meia ímpar.
Controle remoto que funcionava até ontem.
Não sei quem determina quando uma coisa é recente, mas ainda é presente.
Você não está mais aqui.
Não te ouço reclamar que o delivery veio errado.
Nem da minha demora em me arrumar.
E também não ouço mais sua risada com um vídeo engraçado no celular.
Mas ainda não deu tempo de transformar sua falta em saudade.
E talvez eu não esteja pronto pra normalizar.
Ter a sua falta ainda é sinal de ter um pouco de você.
Talvez não tenha lógica que explique isso.
Mas é uma negociação emocional com a esperança de ver isso mudar.
Mas também não sei de qual tipo de mudança estou falando.
Acordar amanhã e lembrar de também te acordar como me pediu.
Viver o dia como ontem.
Eu devia ter pressa em pular para o próximo momento bom da minha vida depois de você.
Mas não há um botão que me ajuda a acelerar.
E vai ver a última coisa que eu tenho agora é pressa em te esquecer.
Porque sentir a sua falta é o que sobrou de você.
É a última ligação entre nós.
Uma despedida solitária, lenta e silenciosa incentivada por rituais.
Parar de te seguir.
Deletar a nossa conversa.
Reorganizar fotos no celular.
Torcer por você mas não buscar notícias suas.
Porque a manchete da minha vida revela que não apenas penso em você, como ainda não quero parar de pensar.
Eu até saio de casa bem, mas o problema é voltar.
Sua ausência faz barulho demais.
E não deu tempo de me fazer mal.
É mais um pouco de você.
por Márcio Rodrigues
umtravesseiroparadois@gmail.com
@umtravesseiroparadois
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