É imenso o
papel que alguém pode ter na nossa vida.
Passa por tudo o que envolve os olhos e o corpo, mas aqui eu quero falar das
outras coisas.
As coisas que mobilizam, por exemplo, o nosso jeito de pensar.
Que invertem lógicas fieis.
Certezas cegas.
É impressionante o quanto uma pessoa pode influenciar a vida de outra.
Há muita influência para o mal – é bem verdade – mas eu queria focar na influência para o bem.
Eu quero falar sobre ouvir.
Um gesto minúsculo de impacto gigante.
Eu acho que a gente, como sociedade, ouve muito pouco.
É possível dizer que isso tem a ver com a pressa com que lidamos com a vida.
Tem a ver também com os estímulos aos quais somos submetidos.
Viciados na vida cheia de áudios ouvidos em 2x, a concentração que já era pouca se tornou rara.
É por isso que, muitas vezes, ao ouvirmos uma pessoa falar com a gente, ficamos mais focados nas respostas que daremos do que nas perguntas que nos são feitas.
E o resultado é que falamos tudo, menos a resposta para a pergunta.
Eu notei o quanto eu ganho quando ouço você.
Eu sempre te ouço, mas não estou falando do ouvir da rotina, da premissa de diálogo, estou falando sobre a sua opinião.
Eu ganho quando ouço uma opinião sua.
Isso não significa que eu concordo com todas, mas o quanto eu preciso delas.
Te ouvir para saber o que você faria no meu lugar.
Te ouvir para saber se, na sua opinião, eu errei.
Ou acertei.
Te ouvir não por inércia mas por intenção.
Há uma sensibilidade importante nessa troca.
Você tem uma habilidade de notar quando eu preciso ouvir uma opinião – ainda que eu não a peça.
Você consegue identificar que a minha postura demonstra incerteza; que estou negociando, comigo mesmo, termos equivocados para os mais diversos fins entre ir ou não ir, responder ou não, fazer ou ignorar; você consegue identificar que pode contribuir com uma opinião que eu, talvez, não tenha considerado.
É por isso que é especial.
Porque não é apenas sobre te ouvir quando eu perguntar.
É sobre você perceber que preciso do bem que a sua opinião pode trazer – ainda que eu, eventualmente, desejasse outra.
É nesse fragmento de relação que eu me refiro.
No segundo que seu coração faz as contas de que é a hora perfeita para emitir uma visão que, como eu disse, eu até posso discordar, mas não me fará mal ao só ouvir – e se fizer, a culpa não é da sua opinião porque eu conheço a sua intenção.
Eu ganho quando ouço você.
Quando você pontua, com delicadeza, que faria diferente; com o cuidado de dizer que escolher o contrário não é um erro meu.
Quando você constrói a sua opinião com base no sentimento que posso ter depois dela.
É uma opinião sobre a cor da camiseta que escolhi.
Sobre uma atitude que eu posso tomar no trabalho.
Uma opinião sobre a importância de retribuir a atenção que outras pessoas me dão.
Toda opinião é uma flecha que a gente sabe onde vai acertar.
Eu tenho a sorte de poder ouvir você.
De contar com a sua opinião.
Quando eu peço.
Quando eu dou um sinal de precisar.
Eu ganho quando ouço você.
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por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com
@umtravesseiroparadois
4 de junho de 2023 at 22:41
Oii! Que texto maravilhoso! Na verdade, todos os que eu li são bons kkk parabéns, você escreve muito bem, acredito que todos nós somos capazes de nos expressar, mas que há pessoas que conseguem transmitir o sentimento através da arte (seja escrita, música…) e você consegue transmitir isso muito bem! Conheci o blog agora e estou devorando todos os textos kkk espero que continue postando!
3 de setembro de 2023 at 18:08
que incrível ler isso, Raquel!
muito obrigado mesmo!
beijos