Eu notei que venho reclamando para os meus amigos.
“Ninguém presta”, “só conheço gente sem graça”.
Durante um tempo avaliei se não era um elevado padrão de cobrança.
Existe um certo padrão desejável por mim, é bem verdade. O que não sei se é verdade é se sou o padrão para alguém.
Eu acho que tem um pouco disso, sim.
Eu prefiro um determinado perfil. E não me cobro exatamente por isso.
Todo mundo têm perfis prediletos – pelo menos em teoria.
Porque acontece muito de aparecer alguém que quebra com qualquer lógica, né? Teorias falham.
Nessa jornada de conhecer pessoas depois de você, eu fui descobrindo outras versões de mim.
Isso tem a ver com aquele cansativo processo de recomeçar a conhecer alguém.
Saber do que gosta, do que não gosta. Qual o tamanho dos sonhos. O sabor de pastel. A série que não poderia acabar. A música que não sei da playlist. Essas coisas e todas as outras que envolvem o processo de conhecer alguém.
Eu não tinha muito o que fazer a não ser sempre recomeçar.
Quando uma história dava uma esfriada o bastante para não existir mais, eu voltava para o começo ao encontrar uma nova pessoa.
Passou a me incomodar, porém, o quanto eu não avançava.
Aumentava a impressão de que se tratavam de pessoas parecidas demais e que não exatamente me empolgavam o bastante para eu dedicar toda a minha energia.
Mas o problema nunca esteve nessas pessoas.
O problema está em mim.
Eu fui notando que não gostava da risada porque a sua era incomparável.
Eu não gostava do ponto de vista porque o seu era sempre ponderado e profundo.
Percebi que não gostava tanto do beijo porque o seu não dava vontade de parar.
Passei a evitar ideias de assistir a filmes em casa porque no sofá tinha um lugar seu.
No fim das contas eu passei a conhecer pessoas procurando você em alguma parte delas. É como se eu mapeasse a pessoa em busca de pistas suas. Queria ouvir o seu som de risada. Queria o seu jeito de opinar. Queria o seu jeito de tocar o meu rosto ao fim do beijo. Queria você buscando pipocas caídas no sofá com o filme pausado.
Eu não tenho sido uma boa pessoa para ser uma pessoa boa para alguém.
Ninguém que eu conheci tem culpa de como estou sendo.
Acho que tem a ver com a minha pressa em organizar um lugar na minha vida para você e não precisar encontrar mais. Pressa em te superar.
Senti tanta pressa de virar a página que escrevemos que passei a rasgar todas as próximas.
Apareceu tanta gente legal, mas como não encontrei você nelas, eu desanimei.
Reconhecer isso pode ser o primeiro passo para eu mudar.
E também te mudar de lugar na minha vida; deslocando do presente para o passado para encontrar um espaço só meu para o futuro.
por Márcio Rodrigues
@umtravesseiroparadois
umtravesseiroparadois@gmail.com
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