Fim.
É uma história que começa pelo fim.

Porque eu não te conheci.
Não aprendi sobre o seu trabalho.
Não descobri um lugar que você gostaria de conhecer.
Nem músicas que gosta.
Muito menos filmes.
Não faço ideia se prefere massa ou árabe.
Nem se você gosta do seu bairro.
Ou de acordar cedo.
Se tem gatos.
Fã de praia.
Sorvete de fruta ou de flocos.
Nada.

A gente não se conheceu.
A gente se desconheceu.

A gente parou nas fotos que um ou outro posta – as que os algoritmos mostram.
Você ri de um meme que eu compartilho.
Eu pergunto mais sobre as músicas que você posta.
E ficamos nisso.

Você não soube que eu tenho (muito) medo de escuro.
E que passo mal com lactose.
Não te contei que sou bom em fritar ovo.
E que nunca atravessei a fronteira do meu município.
Não deu pra te falar que não amo o meu trabalho.
Mas eu amo filme de suspense.
Não consegui te contar.
Eu amo acordar cedo.
Meu bairro é bom aos sábados.
Tenho alergia a gatos, mas agradeço pela invenção do Allegra D.

Praia é bom demais.
Queria te contar como amo praia.
Eu acho que todo dia é dia de sorvete.
Queria saber se você acha que fruta é sobremesa.

Mas a gente não se conheceu.
A gente se desconheceu.
Não deu para saber o que seria da gente.
Não deu para conhecer o perfume que usa – ou se tem alergia.
A gente não sabe como é a textura do cabelo um do outro.
Ou a cor da unha da semana.
Não descobrimos se algum de nós é canhoto.
Se tem um assento preferido no ônibus – ou jeito de fazer baliza.
Se sopa é janta.
Se preferimos Olimpíadas ou Copa do Mundo – ou nada.
Se leu o livro hype no TikTok.
Se usa TikTok.


Combinamos de marcar, mas nunca marcamos.
E assim não marcamos a vida um do outro.
E nem descobrimos se combinamos.

🙁

Eu ri do seu comentário sobre a foto do meu pé com dedo torto.
E vi seu like no meu emoji escrito TOP na sua selfie no elevador.

Sabe como é, a gente se conhece.

Fim.