A gente tem o nosso tempo.
Mas a gente sempre quer mais rápido.
Mais rápido que alguém vá embora.
Mais rápido que alguém apareça.
Mais rápido que a dor passe.
Mais rápido que o amor volte.
Só que a gente tem o nosso tempo.
É impossível não afirmar que tem a ver com uma questão de idade.
Mais jovens, menos responsabilidades e menor a paciência.
A gente só quer que as coisas aconteçam.
Mais velhos, com uma responsabilidade nova por dia, a gente se vê sem alternativa a não ser entender o valor do tempo. Ou pelo menos a gente deveria, porque no fim das contas a gente segue querendo tudo depressa até que a chave vire. E a notícia boa é que a gente é quem vira essa chave.
Ficar em casa passa a ser uma necessidade maior que ficar com alguém.
Confirmar que anda tudo bem com a saúde é mais importante que ter alguém para andar junto.
Saber como vai a família é mais valioso do que saber qual festa ir.
E nenhuma das segundas coisas acima são irrelevantes, o problema é fazer com que elas sejam fundamentais.
Isso tem a ver com a jornada do amor próprio e o quanto este deve ser o amor perseguido.
Gostar da gente. A gente não cuida muito da gente. E, nas poucas vezes que sim, perceba, é mirando agradar alguém. Comprar roupas para novas posts. Praticar exercício para novos corpos. É tudo sobre uma busca de aprovação de alguém, sem que esse alguém, muitas vezes, sequer exista.
“Eu acho horrível almoçar sozinha” – ouvi uma vez de uma amiga. Essa sentença jamais saiu da minha cabeça e relembro a cada vez que almoço sozinho. Parei para pensar na quantidade de gente que deve pensar parecido e que, no fundo, não tolera a própria companhia, seja para saborear um prato de comida ou para aproveitar a si mesmo e refrescar os pensamentos.
Se a sua rotina é condicionada em ter alguém para fazer coisas com você, é um sinal claro de que existe algo grave acontecendo. Há quem diga, inclusive, que é uma derrota ir ao cinema sozinho. “Total deprê” – e nem vou entrar no mérito de reduzir uma doença a uma gíria.
A gente precisa gostar mais da gente pela gente. Comprar uma roupa que faz a gente se curtir ao olhar no espelho ainda que ninguém curta se virar post. Praticar atividade física porque nosso corpo é o nosso templo e não a exibição para outra pessoa. Acho que isso tudo tem a ver com inversão de prioridades, isto é, eleger como principal motivação para cada coisa que fazemos com a nossa vida o bem-estar de nós mesmos, antes de também agradar alguém.
Gostar da gente começando por apreciar a nossa companhia. Desligar a música na volta do trabalho para ouvir a cidade. Chegar mais tarde em casa por escolher o cinema numa segunda-feira. Telefonar para alguém que não conversa faz tempo. Ouvir mais as pessoas. Falar mais sobre o sente. Cuidar de si como prioridade e não como opção.
Antes de encontrar alguém, a gente deve evitar perder a gente.
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por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com
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