Eu estou bem.
Parece que consegui me equilibrar na corda bamba da vida.
A mesma corda que você balançava propositalmente para me desestabilizar.
Eu me senti tão mal. Puts. Muito.
E eu nem percebia que me sentia mal; eu não entendia.
Eu só continuava. Esperava uma mensagem sua; me acostumava com um não seu.
Tudo era uma grande miragem em que eu avistava você gotejar esperanças que evaporavam antes que pudessem tocar minha pele.
E nas poucas vezes que uma esperança tocava, era sempre em forma de beijo com sabor de adeus.
Porque eu nunca sabia quando a gente ia acontecer novamente.
Houve vezes em que pensei que a gente estava funcionando.
Coisas que você me disse me comoveram como poucas.
Coisa que eu te disse nunca ninguém tinha ouvido antes.
Eu destranquei uma porta no meu coração só para você entrar enquanto te explicava como demorei para arrumar a bagunça, mas você arrombou a fechadura.
Me rejeitou disfarçando se importar.
“Saudade da gente”, “Queria te ver”.
Queria coisa nenhuma.
Injetou ansiedade em demonstrações de carinho que eu tinha sede para receber. No seu colo no sofá, enquanto circulava o dedo no meu rosto deitado em uma almofada sobre as suas pernas, eu pensava se isso significava um convite para conhecer o seu mundo. Mas era um trailer de você destruindo o meu; porque no mesmo sofá eu chorei muita raiva sua.
Eu não sabia que era um jogo; que o sorriso que aparecia no seu rosto depois do nosso ‘boa noite’ era fruto da satisfação de uma estratégia de ilusão. Eu não tinha como saber de nada e só me cabia imaginar. Não sabia que antes e depois da nossa conversa no WhatsApp, haviam outras para você priorizar na mesma medida e, provavelmente, copiar a colar as mesmas coisas que me dizia.
Eu fiquei tão mal.
E quando a gente fica muito mal, a gente só quer uma garantia de que vai ficar tudo bem – mas não há garantias na vida. Quando a gente chega no fundo poço, parece que ele vira um túnel. Quando a gente acha que não vai passar, passa tanta coisa pela esmagando a nossa cabeça.
Mas hoje, contrariando a minha própria expectativa, eu estou bem.
Esses detalhes que contei estão guardados na minha cabeça porque entendi que não posso romper com o meu passado; o tempo é um HD daqueles que a gente esquece onde guardou – mas que, se procurar bem, encontra. Foi importante dissecar cada sensação ruim que você me causou e aí é só não vigiar a ferida fechar.
Hoje você não me reconheceria porque nem eu mesmo me reconheço.
E isso é estranhamente bom.
Acho que consegui elevar um pouco a régua do que é bom para mim.
Porque na nossa época, ou melhor, na época que te conheci, eu me tratei mal demais. Você então, nem se fala.
Muitas coisas mudaram em mim, mas um delas é que fiz um combinado comigo: quanto mais eu conseguir me priorizar, menos a dor vai doer. Esse combinado envolve um limite que eu mesmo dei para a minha vida ao conhecer a de outra pessoa. Limites importam porque protegem.
Eu não posso garantir que vou conseguir ser sempre assim, mas ter um plano é atalho para felicidade.
Hoje você não me reconheceria também por outro motivo: eu não quero.
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por Márcio Rodrigues
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