Poderia dizer que quase nada.
Dizer que me apeguei muito ao que fomos para hoje me sentir tão pouco.
Poderia dizer que não sou mais o mesmo. Que as coisas quase não têm mais graça.
Essas coisas. Bem que eu poderia.
Mas o que sobrou foi o que havia antes de você chegar.
E, por essa, eu não esperava.
Naquelas de mergulhar demais nas pessoas, a gente esquece do que existia antes de saltar.
Tenho pensando nisso.
Aí começou a fazer sentido pensar que, apesar da sua contribuição na minha vida, a sua ida me fez voltar para quem eu sou – agora de um jeitinho diferente.
É por isso que você sempre vai ocupar um lugar bom aqui. Nossa história me acrescentou.
Eu voltei para mim.
Com um olhar mais sensível para o que sou, fica mais fácil entender os prós e contras de você ir embora. E, no saldo, os contras não pesam tanto assim. Você foi e deixou tristeza sim, mas eu já tinha sentido algo parecido antes, com outra pessoa, em outra fase da mesma vida.
Acho que o tempo vai ensinando pra gente que cada pessoa desempenha um papel na nossa vida com um limite. Ninguém vai ser tudo. Ninguém vai ser nada. Sempre serão alguma coisa que a gente vai administrando até onde.
O que muda depois de cada fim é o jeito que a gente faz isso virar um recomeço.
Jamais cairia na conversa de te julgar como alguém horrível. Isso seria desonesto comigo mesmo.
O ponto é que a sua participação na minha vida foi vendaval que agora me faz recolher as roupas caídas do varal. E o negócio é que faz parte. Feliz por não ter tido desrespeito e ofensas. Está tudo bem. Outro fim. Todo mundo já foi vendaval de alguém – ou ainda vai ser. Eu também.
A sua ida me fez voltar para mim.
Será que soa infantil falar assim?
Autoajuda demais?
Mas se eu não me ajudar quem vai no meu lugar?
Você foi e eu fiquei. Logo mais chega outro alguém. E se não for agora, de novo: tá tudo bem.
Talvez a gente precise olhar as coisas com um carinho mais racional.
Emoção demais desequilibra a gente.
Voltei para as coisas que gosto, para a mesma risada, os mesmos amigos, as mesmas preferências, mesmos livros e refrões, mesmos fins de semana, séries preferidas e toda e qualquer outra coisa que sempre fez parte de mim.
O que sobrou depois que você foi embora foi exatamente o que você encontrou quando chegou: eu mesmo. Olha que legal.
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por Márcio Rodrigues
umtravesseiroparadois@gmail.com
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