Eu posso deixar te seguir nas redes sociais.
Deletar nossa conversa no WhatsApp.
Apagar suas fotos.
Parar de ouvir músicas que me lembram você.
Evitar tudo mais que eu sei que você gosta.
Mas talvez não seja sobre te esquecer.

Eu fui me descobrindo enquanto fui conhecendo você.

Descobri que eu consigo surpreender a mim mesmo; que eu posso demonstrar que gosto de alguém de maneiras um tanto quanto imprevisíveis até pra mim. Eu gosto de gostar de alguém e não meço meu esforço para que a pessoa saiba disso. Tem gente que prefere não aparentar tanto.

Eu entendi um pouco melhor o que significam limites também.
Limite é quando o motivo amarela o nosso sorriso.
Demorei para perceber que as minhas respostas de ‘tudo bem e com você?’ nem sempre estavam bem assim.
Tem a ver com um jeito de falar meio atravessado.
Uma impaciência para ouvir.
Desinteresse em perguntar.
Alguma displicência com combinados.
Eram coisas pontuais. (eram?)
Daí passou a ser rotina tanta coisa pontual.
Principalmente porque as coisas oficialmente boas se tornaram escassas demais para equilibrar.

Entendi uma outra coisa muito importante também: o apetite por planos deve ser compartilhado.

Eu te contava coisas que eu gostava ou queria fazer; viagens, músicas, passeios ou até filmes que eu gostaria de assistir, mas você nunca me devolveu animação convincente. Foram poucas as vezes que eu não te acompanhei em algo que era desejo mais seu do que meu. Eu percebi que talvez você quisesse ter uma relação centralizada nas suas preferências e não na de duas pessoas.

Mesmo assim, talvez não seja sobre te esquecer mesmo.
Primeiro porque acho que não tem um botão pra isso.
O tempo vai te acomodar na minha vida num lugar que vai ficar difícil de acessar aos poucos. Quando eu menos perceber, você já não vai ser uma das primeiras coisas que vou pensar.
E, segundo, porque ter consciência de que você existiu na minha vida é um jeito de me fazer pensar em tudo o que descobri sobre mim ao te conhecer.

Eu que pensava que me conhecia, descobri que sei tão pouco sobre mim. (será que um dia a gente descobre tudo sobre a gente?)
E talvez seja essa a graça de ter uma relação com alguém, né?
Um clichê dos grandes.
Conhecer alguém e, ao mesmo tempo, conhecer mais de nós mesmos, novas versões de nós mesmos, avaliar como a gente muda de ideia, de certeza, de preferência e de visão micro ou macro sobre as coisas. Bobagem demais acreditar que nunca dá tempo para mudar.

Eu posso deixar de ter seguir nas redes sociais.
Eu vou encontrar maneiras de não ficar pensando em você, mas isso não significa que preciso te esquecer.

Eu só preciso lembrar mais de tudo o que descobri sobre mim depois de te conhecer.

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Márcio Rodrigues
@umtravesseiroparadois
umtravesseiroparadois@gmail.com