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parece que não, mas você está conseguindo

(leia ouvindo “your power”)


Existe um monte de fantasma na sua cabeça.
Alguns surgiram quando você ainda era criança, outros nas últimas semanas.
Fantasmas pesados, que roubam sua energia e complicam a execução das menores tarefas.
Esse peso todo dentro da sua cabeça, inclusive, te complica até de levantar de manhã.
Também é o tipo de coisa que pesa tanto, que faz doer e te questionar sobre você. Assim, você acaba se cobrando cada vez mais e nada nunca parece bom o bastante.
Essa dor também te provoca reclusão; uma vontade única de ficar com a própria companhia que, aliás, já é barulhenta demais.
É difícil garantir que tudo isso suma da sua vida, mas é completamente certo de que a cada dia novo que termina é mais um dia em que você se torna mais forte pra administrar.

Todo ontem vivido é uma nova vitória.
Parece que não, mas você está conseguindo.

Você está conseguindo identificar o peso das coisas, e assim, consegue também entender o quanto de energia vai demandar. E isso é diferente de você de anos atrás onde qualquer menor problema parecia a maior tragédia. Tudo ainda existe, mas hoje você consegue identificar mais vezes quando é problema e quando é tragédia. E, talvez, o mais importante: entre problemas e tragédias, você consegue, a cada dia que passa, passar por tudo.

Por outro lado, terminar um dia, muitas vezes, representa o recomeço do medo do amanhã. Não tem como ficar feliz com um dia acabando quando a gente sabe que tem outro chegando pela manhã; e essa nova chegada representa os mesmos desafios e ansiedades de um dia antes. É uma sensação de ciclo venenoso.
Já te ouvi falar sobre algo parecido e consigo imaginar como ´e tóxico.

O que eu quero destacar, porém, é que você tem passado por tantos fins e começos de dia que acho que nem parou para perceber. Você tem superado tanta coisa que há anos atrás te tiraria o sono – e não que o sono, hoje, esteja uma coisa maravilhosa, mas isso é outro assunto. Você tem descoberto que você funciona em muitas coisas que eram incógnitas um tempo atrás. Ou seja, parece que não, mas você está conseguindo.

Está conseguindo levantar com joelho ralado depois de cada tombo. Está conseguindo dar o seu máximo e ter reconhecimento por isso. Porque reconhecimento é fundamental; é ferramenta de autoestima e motiva a gente continuar tentando – e se equilibrando no mix de acertar e errar.

Você está conseguindo se tornar quem mais queria: alguém que consegue administrar; não a preço baixo, é bem verdade, pois essa administração tem o custo de muita energia vital, mas veja só, diferente de alguns atrás, você está conseguindo ter energia para o que nunca imaginaria ter.

Tem dias que são uma bosta, mas pra cada um desses, tem outros com algum momento bom pra ter valido viver – ainda que o momento seja uma música que te faz bem.

Eu só queria te convidar a pensar em como você era há 05 anos. Muita coisa que parecia impossível agora é um fato para você. Muita coisa que parecia impensável agora é pensada e construída por você. Muita coisa que parecia distante agora está tão perto que parece que sempre existiu. Espelhar esse passado com tudo o que você conseguiu e tem conseguido pode ser um jeito de pegar mais leve com você. Mas também, vou te falar, se for pra pegar pesado, não haveria outra época melhor do que agora, nessa sua recente versão, cheia de curativos e também de força pra passar por cima – nem que seja a força do ódio.

Os fantasmas, todos eles, ainda estão por aí.
Algumas batalhas são eles que vencem.
Mas, agora, quem deve ter medo do amanhecer são eles porque a cada novo dia, é você um pouquinho mais inteligente misturando coragem pra enfrentar e desdém para não ser importar – ou se importar menos, o que já é uma conquista.

De verdade, parece que não, mas você está conseguindo.

///
por Márcio Rodrigues
@marciorodriguees
@umtravesseiroparadois
umtravesseiroparadois@gmail.com

alguém bom de lembrar

Alguém bom, sabe?
Nem precisa ser alguém ideal.
(porque o ideal ainda é cogitado?)
Mas ser alguém bom.
Alguém bom de lembrar; de fazer parte da sua vida.
Alguém que você não vai ficar brava quando vir a cabeça.
Alguém que você vai abrir um pequeno sorriso ao lembrar.
Porque é alguém legal.
Alguém que você gosta do quanto te faz bem.

Eu quero ser alguém assim para você.
Alguém bom para você relacionar em um assunto qualquer aos seus amigos.
– “Não, e detalhe, ela ainda faz isso e aquilo. Legal, né?”
Alguém para você gostar de citar como exemplo, nem que o exemplo seja o pé chato. (tudo bem que não e só o pé que é chato né, hehe)
E ser alguém para buscar exemplos com você.
Exemplo de viagem boa.
Exemplo de planos gostosos.
Exemplo de descoberta de comida nova.
Exemplo de co-criação de momento bom.
Mesmo que não seja assim um exemplo de pessoa em organização, por exemplo.
Mas, alguém legal de lembrar, sabe?

Alguém com mais intenção em construir do que destruir. Porque a destruição já pesa demais por ser um acidente da vida.
Eu quero ser alguém para te ajudar a reconstruir a casa quando ela cair.
Porque ela vai cair.
E a minha também.
E eu vou gostar de estar lá e de ter você lá na minha vez.
Primeiro porque eu não consigo sem ninguém, segundo porque você faz parecer fácil.
No silêncio da companhia ou no som do coração abraçado.

Alguém bom de lembrar.
Eu quero ser alguém bom de lembrar.
A gente precisa ser alguém bom de lembrar.
Porque já tem muita coisa boa de esquecer.
Quero ser o destino quando você voltar para casa com tanto para falar.
Ser também quem opina que você errou. E quem valoriza quando essa é a sua opinião.

Sei lá, alguém para ser uma pequena parte boa do seu dia ruim.
Não alguém para tumultuar ou para te colocar para baixo.
Mas alguém para ajudar a procurar respostas e para te lembrar que você consegue.
Não que você dependa dessa lembrança.
Mas não há ninguém que outro alguém não possa ajudar de alguma maneira boa.

Alguém bom de lembrar.
Se acaso eu sair da sua vida antes do planejado, que eu seja uma pessoa boa de lembrar.
Se acaso eu partir desse mundo antes de você, que eu seja uma lembrança boa de contar.
Se você gostar de outra pessoa, que eu seja alguém que estabeleceu um parâmetro de jeito bom de viver com alguém.
Alguém para diminuir alguma vontade sua de ter outro tipo de alguém.
Alguém bom para você para você lembrar.
De como é bom quando a gente tem alguém especial de lembrar.
E para eu te lembrar também da minha marca preferida de chocolate; porque você esquece toda vez.
Mas ainda assim você lembra de mim.
O que te faz impossível de esquecer.

você não faz meu tipo

Você me contou que gosta do TikTok e eu tive um piripaque.
Pensei: “puts, não vou consegui acompanhar; meu instagram, que é a rede social que mais uso, est´á abandonado há meses”.
Sabe como é né, apaixonados podem negar, mas conhecer alguém é abrir uma planilha no excel cheia de prós e contras para saber se vai ter futuro – mesmo que até o presente sequer exista ainda direito.
Vai ver é coisa de signo; como você disse.
Mas a gente é bem diferente, você sabe.
Gosto de acordar cedo, você não gosta de acordar.
Sou praia, você frio.
Silêncio e carro de som.
Doce e salgado.
Um monte de coisa que não tem muito a ver.
Mas aí a gente se viu.

E deu vontade de saber de você.
Das coisas que você gosta; te contar das minhas.
Eu só não sabia que elas não combinariam muito.
Lembra do nosso sorriso amarelo do tipo “hehe, parece legal” reagindo sem graça ao modo empolgado de um e o outro contar algo que ama?
Ainda custo a entender como você não gosta de filme de terror.
Eu nunca consegui terminar nenhum documentário que você ama.
A gente tinha tudo para não dar em nada.
E olha no que deu.
Apesar de seguir revoltado com o fato de você ainda mandar emojis em 2021.
E não gostar de figurinhas.
Quem não gosta de figurinhas?
Descobri que você.

Descobri também que não lembro bem de mim antes da gente.
Porque fui entendendo como me fazia bem te ouvir falar das coisas que te fazem bem. A minha reação de zoar com a sua cara era uma defesa para não revelar, muito na cara, o meu interesse sobre como você é interessante.
Já mencionei que não sou muito inteligente?

Você não faz o meu tipo e sei que não faço o seu também.
Mas será que esse não era o tipo de coisa que a gente precisava?
De alguém trazendo um jeito novo de ver as coisas de sempre?
Até porque essa ideia de “tipo”, além de cafona, só funciona no excel.
Que eu nem sei mexer.
E que você manja tudo.
E que medo eu tenho agora; pensando bem.

Você trouxe cor para uma parede por pintar na minha vida.
Porque se fosse eu, seria a mesmo de sempre.

Coração acostumado fica viciado em atalho.
Eu estava acostumado a um tipo de pessoa, meu coração precisava de outra.
O problema é achar possível pensar friamente enquanto o coração age no calor. Porque se fosse para calcular, talvez a gente não seria a gente.
E, hoje, somos.
Enquanto a gente for, o que vou buscar saber é que tipo você gosta.
De desafio de dança ou trend de imitar professor.
Isso, no TikTok.
///

por Márcio Rodrigues
@marciorodriguees

Eu sou legal demais para sofrer por você

Diferente de você que nem quis me conhecer, eu me conheço.
A forma que esse fim torto aconteceu vai me deixar mal.
Meus amigos vão falar pra eu ficar bem.
Mas eu vou ficar mal – e eles me conhecem bem.
Até porque não tem um botão ficar bem/ficar mal.
Eu vou F I C A R M A L.
Mas só vou ficar por um tempo; menos do que imagino.
Diferente de você que nem quis me conhecer, eu me conheço.
Já mencionei que eu vou ficar mal?

Vai ser mal do tipo ter suadeira só de ouvir um nome igual o seu na padaria.
Sei lá, vai que é você.
Vai ser mal do tipo pedir para meus amigos não mencionarem certos filmes e bandas – tampouco alguns lugares que você gosta e que aceitam delivery.

É possível que eu perca apetite. E essa é a pior parte. Você nem chegou a me conhecer como fico quando não consigo comer. Eu amo comer.
E assim eu vou perder um peso – mas vou procurar ajuda pra cuidar de mim e me reequilibrar.

Certamente vou parar de seguir alguns perfis no TikTok.
Aqueles que você me indicou e que eu passei a amar. Que inferno.
Durante um tempo não vou conseguir dissociar de você as coisas que me fazem bem – que, de fato, passou a me fazer mal.

E cheiro?
Cheiro vai ser complicado.
Minha cabeça me leva exatamente para o lugar da melhor lembrança ao sentir determinados cheiros – lugares e pessoas. E a gente meio que teve os dois, ou seja, alguns lugares que fomos juntos não vou conseguir ir por um tempo.

Isso tudo vai acontecer; bem mais que isso vai acontecer. Eu vou ficar mal.
Mas não vai ser por muito tempo não.
Primeiro porque eu tenho clareza dos motivos que me farão mal, de cada detalhe pequeno. Mas vai rolar um alívio também de pensar que fiz tudo o que pude. Então, vou aprender a lidar aos poucos, sem me pressionar.
Segundo porque eu sou legal demais para sofrer por você.
Falando assim parece que me acho, né?
Não é totalmente errado isso não.

É que tenho muita vontade de fazer bem a quem me faz também.
Eu sou meio incontrolável nesse sentido.
Tenho um monte de planos possíveis de viver sozinho mas melhores ainda de viver com alguém. E o primeiro plano é realizar os planos desse alguém.

Eu topo tudo. Desde que não envolva altura. Tenho pavor.
Não tem tempo ruim pra mim porque é legal demais ter alguém para acompanhar. Eu vou aos shows de artistas que não conheço – ou nem gosto tanto assim. Eu assisto a filmes que não fazem o meu tipo. Eu experimento comidas que, de cara, sei que não vou gostar. Eu gosto de acompanhar. E todo mundo, em algum momento da vida, gosta de ter companhia. E o saldo de tudo é me fazer um pouquinho mais interessante do que antes.

Também gosto de opinar, quando a minha opinião é solicitada. Tenho disposição para ouvir, buscar entender e contribuir com o meu jeito de ver as coisas – mesmo que não seja o mesmo jeito da pessoa que está comigo. Também sou aberto a crítica; a entender que talvez eu esteja mais errando do que acertando. Sacodes bons de levar da vida.

Então assim: eu vou ficar mal.
Vai rolar uma nova fornada de pão amassado pelo diabo para comer.
Já consigo imaginar o pote de sorvete na minha barriga e o app de streaming me perguntando se ainda estou assistindo.
E isso tudo faz parte, né? O que a gente teve estava legal demais para não me chatear com o fim.

Mas esse meu mal-estar também vai ter fim.
E a parte de fazer alguém ficar bem é a minha preferida.
Eu gosto de tentar ser legal.
É que ao contrário de você que nem chegou a me conhecer direito, eu me conheço.

—-
por márcio rodrigues
umtravesseiroparadois@gmail.com
@marciorodriguees
@umtravesseiroparadois





Puxar assunto pra você me notar

Te desejar “bom dia” pela manhã.
E aparecer, à noite, para saber se foi bom mesmo.
Se sim, a gente pode comemorar rindo de algum tiktok bobo.
Se o dia não foi tão bom, a gente pode conversar com calma e atenção – mas não muito para não ficar um clima chato.

Perguntar das músicas que você gosta.
E porquê.
Gostar de música todo mundo gosta de várias, mas os motivos são pessoais.
Eu tenho as que me animam no trânsito; mas também tenho as de ouvir em noites de chuva.
Trocar playlists.

“Me manda uma playlist que me ajude a te conhecer sem você dizer uma palavra” – é sobre esse tipo de interesse.

Comentar de shows; dos que já foi e dos que gostaria de ir.
E descobrir que, naquela quinta-feira, nós dois estávamos no mesmo show. Mas a gente nem sonhava se conhecer ainda.
Na verdade, puts, você tinha conhecido outra pessoa.
Te contar que acabei me viciando naquela banda que você indicou.
E pensar como, aos olhos dos interessados, isso é um pequeno gesto do mundo dizendo que você comprou ingresso pista premium para participar da minha vida.

Pedir sua opinião sobre uma dúvida minha.
Seja ela sobre qual roupa fica melhor em mim.
Seja sobre o rumo que eu devo tomar na minha carreira.
Valorizar a sua forma de ver e agradecer pela.

Notar que você passou a postar menos. E perguntar se tá tudo bem – com o cuidado para não perseguir ou invadir.
E ouvir áudios seus dizendo que “tá tudo bem sim, só fiquei um pouco de saco cheio de Instagram :)”
Mas aí, numa conversa mais profunda em que você conta detalhes seus, juntar lé com cré, faz sentido a sua ausência da internet.

Arriscar um convite pra gente se ver.
E ver que você gostou de ideia, apesar de estar corrida por esses dias.
Entender, mas mesmo assim anunciar: “Não sei se viu, mas abriu um lugar novo e que, pelo visto, é bem gostoso de ir à noite. Vou te mandar o Insta”. Só para você entender que não era um papo do tipo “bora marcar alguma coisa”. Era um convite pra você.

Ficar feliz quando o celular piscar e a mensagem for sua me chamando pra fazer alguma coisa – mas dessa vez eu não conseguir, mas a gente já deixar marcado. Mensagem esta que é um sinal de que ruim a minha reputação não está. O que também não significa exatamente algum interesse seu por mim. É só uma mensagem. Eu responder 07 segundos depois que recebi? Sim, mas ainda é só uma mensagem. Eu abrir a conversa outras vezes pra “vai que me mandou outras e não li”? Sim, mas continua sendo uma mensagem.

E, num outro papo qualquer, a gente entrar num espiral de conversas que começa comentando o absurdo final daquela série e vai até a projeção econômica do país para os próximos meses. E tudo parecer estranhamente interessante.

Perceber que você gosta de viajar.
Contar que eu gosto e perguntar se você já foi para o lugar x.
E te ler dizer que simplesmente odeia o lugar x :’)
Mas que o lugar y é o seu sonho.
Que eu anotei no celular pra entender mais sobre porque não seria uma má ideia pra mim – apesar de eu não me dar bem no frio.

Sou eu um pouquinho por dia.
Com medo da vida me foder de novo ao me expor e respeitando tudo o que você já passou, mas ainda assim animado por investir em te mostrar que posso ser alguém legal; que posso ser alguém para você rir junto; que a gente pode ser uma dupla legal – ou pra te alertar que o alface ficou no dente.

E também posso ser, imagina que louco, quem vai ser ser a primeira pessoa a te ver acordar; a primeira pessoa entre as bilhões do mundo a te ver pela manhã – mesmo sabendo que você, definitivamente, detesta a sua aparência nas primeiras horas do dia.
(talvez porque ninguém te disse que ela tá longe de ser ruim)

Tudo isso pode acontecer se eu puxar assunto para você me notar.
Posso até descobrir que você já me notava.
Aí o coração não aguenta não.

por Márcio Rodrigues
@marciorodriguees
umtravesseiroparadois@gmail.com






Quando comecei a te mostrar nos meus stories

A gente estava se dando bem.
Tão bem que os planos já continham a presença um do outro.
E aí teve um dia que, num jantar, eu postei.
Queria mostrar como o prato que eu pedi era bonito.
Aparentemente, um story qualquer entre os outros que já fiz e os outros bilhões sobre comida feito todos os dias.
Mas aquele dia não era um qualquer, tampouco aquele post – obviamente que não pra mim.
Aquele foi o dia que, pela primeira vez, mostrei um pedacinho de você no meu stories e, sem alarde, abri às pessoas que me seguem que uma companhia especial se fazia presente – mesmo não mostrando tudo. Todo mundo, certamente, entendeu.

No primeiro plano estava o meu prato, talheres e copo com bebida. Ao fundo, porém, meticulosamente, aparecia parte do seu braço, ombro e, claro, sua roupa.

– “Que prato bonito, deixa eu fazer um stories clássico aqui!” eu disse.

Mas o que mais importava estava no que eu não disse.
Bem mais do que satisfação para quem quer que fosse, aquela foto foi um tipo de registro da oficialização da sua entrada na minha vida, mesmo que eu não tenha mostrado tudo de você. E também não precisava.o
Aquele post foi uma espécie de código social – e virtual – de que eu estava entrando numa história nova com alguém. Meus amigos mais atentos já haviam comentado de terem visto eu te marcando em posts de memes –imaginam se vissem nossa DM e há quanto tempo a gente troca vídeos de cachorros engraçados.

Depois do post, o emoji dos olhinhos para o lado foi o que mais recebi dos meus amigos; aqueles que já sabiam de você e da gente.

Assim como é possível perceber quando uma pessoa está solteira por meio dos seus posts – pelo boom de selfies, por exemplo –, é possível perceber quando essa mesma pessoa conheceu uma outra. A gente sempre vai dando sinais. É um ciclo natural de entrada e saída de pessoas na nossa vida.

Agora, para além da simplicidade quase ingênua de te mostrar nos meus stories, havia uma autoafirmação de que eu estava pronto para viver uma nova história e passar a compartilhar isso com outras pessoas; de que eu estava seguro para deixar outra pessoa participar dos meus dias. Acima de tudo, era como se eu me sentisse bem em emoldurar você como nova parte da minha rotina.

Talvez, para você e para muita gente, tudo isso seja uma grande bobagem, mas talvez também signifique que se a gente desse mais valor a bobagens desse tipo, seria mais fácil transformar dias comuns em dias especiais. E sempre vai ser mais legal ter uma vida com dias especiais.

Eu gosto de lembrar sorrindo de quando comecei a te mostrar nos meus stories – mesmo que você, um dia, não chegue a fazer parte deles mais.

—-
por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com





Um pouco de você em mim

Percebo um pouquinho por dia. 
Um eu que eu nem sabia que eu gostava tanto. 
Um eu, que aconteceu, depois que você apareceu. 
Mudei tanto. 
Há coisas em mim que antes eu nem sabia que precisava. 
E hoje parece que sempre estiveram aqui. 
Você normalizou o melhor de mim. 
Tem um pouco de você em mim em todas as coisas que eu faço. 
Ou em muitas das coisas que penso. 
 
Tem você na crença de que eu posso superar um dia ruim e na compreensão de quem tem dias que são uma bosta. 
Tem você nos filmes que eu torcia o nariz e hoje gosto de gostar. 
Tem você em mim nas manias, na conchinha-surpresa no meio da noite, na voz calma que acalma. 
E na confusão de chinelos saindo do sofá. 
 
Tem também um pouco de você em mim na companhia. 
A companhia que abrevia a solidão e que cobre o coração nos piores momentos; tantos e tão lentos. 
Companhia que pode ser dividida em cômodos pela casa ou assistindo a mesma coisa na TV. 
Ter um pouco de você em mim é admitir que eu não tenho tudo e que, do todo, eu sei tão pouco.  

É praticar o ouvir você e processar para o meu bem. Entender e respeitar como você enxerga as coisas, mesmo que a gente não enxergue algumas da mesma forma. Ter um pouco de você em mim é automatizar a lembrança de você. Comprar aquilo no supermercado por saber que você vai gostar, ainda que não tenha me pedido.
 
Tem muito de você nos meus planos; na vontade de experienciar e conquistar algumas coisas pra ver qual vai ser o tamanho do meu sorriso emendando com o seu. Tem você em mim na vontade de te ver vencer, de te ver sendo quem você gostaria de ser e ao reservar minutos do meu dia para te desejar o bem – no silêncio do meu pensamento. 

Ter um pouco de você em mim é rir sozinho repetindo coisas que você fala, me ver imitando seu jeito e entender que, apesar do mundo hostil lá fora, a gente constrói um mundo nosso blindado de qualquer energia ruim. 
 
É saber que a vida não é fácil, mas que ela facilita enquanto a gente se tem. 
Um pouco de você em mim por dia me faz melhorar muito. 
E você nem imagina. 

///
por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com
@marciorodriguees

E se você enjoar de mim?

Se você esconder o sorriso que aparecia ao receber uma mensagem minha? Se a minha imagem na sua vida representar algum tipo de desconforto? Se os seus pensamentos sobre a gente não te animarem tanto mais? Se o prazer em ficar perto se transformar no alívio em ficar longe? Se passar a virar os olhos de saco cheio nos memes que eu te marcar? Se você não sentir mais o tesão que sentia? Se o beijo não funcionar mais? Se até a minha risada te incomodar?  
 
E se você enjoar de mim? 
 
Como resultado do que passe até aqui, sou uma ferida aberta que atende pelo nome de insegurança. Nessa ferida, há algumas histórias antes da nossa onde sempre vivi uma contagem regressiva à espera de tudo acabar. Nas entrelinhas, sempre era eu querendo continuar enquanto a outra pessoa queria terminar. 
 
Só que eu nunca sabia. A gente nunca sabe, a gente começa a perceber. 
E quando eu concluía, já era no capítulo final. 
O resultado disso é a minha autoestima remendada, receio em atrapalhar e uma relação de ansiedade com o futuro sobre quem está comigo. 
 
Essa ansiedade se manifesta em pensamentos como: há uma cadeira no cantinho de algum dos seus planos pra eu sentar? E quanto a mim, posso te contar sobre um lugar pra gente visitar um dia sem medo de te assustar? Eu posso sonhar altão demais com alguma coisa e te convidar pra viver comigo? Você vai dizer “sim” mesmo que de brincadeira? Ou vou parecer que quero estragar seus objetivos? Que quero protagonismo? Que quero tumultuar sua individualidade? 
 
Meu plano preferido é fazer parte dos seus. 
Te convidar para os meus. 
Realizar os nossos. 
Respeitar cada um. 

Mas e se você enjoar de mim?  
Você me avisa? Se houver algo que eu possa fazer, me dá algum sinal de que não está tudo bem? Porque aí eu posso ter o tempo que eu nunca tive; tempo de revisar, apagar e reescrever; fazer funcionar, motivar e mudar o que eu conseguir até você sentir que melhorou.

Eu não apareci para atrapalhar.
Eu sou alguém com vocação para ajudar.
E não que você seja alguém que precise, mas eu estou por aqui para te lembrar que tem força do lado de cá quando a sua parecer acabar.

///
por Márcio Rodrigues.
umtravesseiroparadois@gmail.com

A boa notícia do dia

Será que a gente percebe a boa notícia do dia ou a gente só vive esperando a notícia que a gente quer? Será que a gente consegue ser sensível aos bons momentos de um dia comum ou tudo é chato demais se não acontecer aquilo que desejamos? Será que a gente vive alguma coisa boa num dia normal ou realmente é tudo ‘ok’ como a gente costuma sentir por conta, muitas vezes, de uma rotina acordar-trabalhar-dormir-acordar-trabalhar? 
 
Eu comecei a pensar nisso. 
Ansioso, tímido e sempre com baixa autoestima, sempre tive um montão de desejos para o universo. Por exemplo, me ocorreu agora, quando eu tinha por volta de 14 anos, veja bem, lembro de rezar por meses antes de dormir pedindo uma oportunidade de dar meu primeiro beijo. Sem muita habilidade de só mentalizar palavras, eu as falava em reza muito baixinho para os meus pais não ouvirem, uma vez que eu não tinha um quarto só meu – inclusive fui ter, pela primeira vez na vida, há 3 anos quando saí da casa que a minha mãe e tia moram – Estou com 34 anos. Engraçado o tipo de desejo que passa na nossa cabeça quando estamos na adolescência, né? Você deve lembrar de algum seu que hoje deve render risada. 
 
Aquele eu de 14 anos achava que a vida tinha que acontecer pra ontem. É que o papo de paciência, batalhar ou qualquer palavra do tipo, não entra na cabeça de alguém por volta de 14 anos. Eu jamais imaginaria como a minha vida social, profissional e afetiva ia se desenrolar lá daqueles 14 até hoje aos 34. E que bom. 
 
Hoje, a quarta coisa que mentalizo todos os dias é: saúde e paz – a primeira é “que sono”, a segunda é “vontade de dormir” e a terceira é “hoje vou dormir cedo”. Mas sério, essa mentalização ficou ainda mais forte depois que perdi um dos meus melhores amigos em 2018. Saúde e paz é uma dupla que permite a gente levantar de manhã e ver como vai ser o dia. Comecei a focar muito nisso, especialmente por já ter vivido e/ou convivido com episódios de saúde instável e pouca paz. 
 
Mas tem outra que comecei a mentalizar, especialmente nessa recém virada de 2020 para 2021: boas notícias. Comecei a pensar bastante no quanto estou prestando atenção nas boas notícias do meu dia ou se estou sempre franzindo a testa reclamando de alguma coisa, de alguma pessoa ou do que quer que seja. Toda reclamação é uma inércia onde a gente começa e não para mais, aí o “próximo motivo” aparece e a gente só repete a reclamação, uma vez que já reclamamos anteriormente. Se a gente encontrar alguém que valide nossa reclamação, aí pronto, é ladeira abaixo. Eu não estou dizendo que não devemos reclamar – até porque, né, seria ingenuidade demais pois: impossível –, mas comecei a pensar se eu também reparo quando algo bom acontece na mesma medida que reparo algo não tão legal. E a conclusão é óbvia: não reparo. Assim, concluí que grande parte das palavras do meu dia são sobre algum tipo de reclamação: da demora do delivery à quantidade de pelos dos gatos na roupa.  

Eu não estava/estou sendo generoso comigo. 

Por isso o meu desejo aqui é simples: saúde, paz e boas notícias. Que a gente consiga prestar mais atenção em cada boa notícia do dia mais comum que a gente viver. Depois de um cansativo dia de trabalho, você senta no sofá, abre qualquer serviço de streaming e: “olha esse filme que estreou!”. É uma boa notícia. Se você for pedir delivery e conseguir um desconto no produto ou no frete. Outra boa notícia. Se você encontrar uma peça de roupa que procurava há dias: outra boa notícia. Se você teve uma conversa gostosa om algum amigo. Mais uma. Se você conheceu uma parte nova daquela pessoa que tem conversado há dias. Uma boa notícia. Se você completou mais um dia acordando com alguém especial na mesma cama. Uma boa notícia e tanto. Se você conseguiu começar a tirar aquele desejo do papel se inscrevendo num curso ou algo do tipo, mais uma. Se conhecer uma música nova que não sai da sua cabeça. Uma. Se bater um ventinho fresco na sua janela numa noite quente de verão. Outra. Se você arriscar a fazer um prato novo e ele ficar ‘ok para comer’. Uma grande boa notícia. Se você descobrir um canal novo no youtube, se você passar a seguir uma pessoa que te inspira, se você conseguir não pular a rotina de skincare antes de dormir, se você praticar alguma atividade física, se tem dificuldade para se concentrar em ler mas conseguir ler uma página nova por dia – esta é uma notícia enorme. 
 
O ponto aqui é: todo dia tem uma boa notícia, mas a gente precisa prestar atenção nelas. É claro que em meio a uma pandemia deste tamanho, a melhor notícia vai ser uma vacina que permita evitar que mais pessoas morram, mas me permito aqui e me referir a boa notícia corriqueira, do seu dia a dia, aquela que você chama de “normal” mas que perde espaço na hora de comparar com a primeira reclamação que vier pela frente. Acho que é possível afirmar que, numa rotina de vida com o privilégio de ter saúde e paz, há pelo menos uma boa notícia por dia – se considerar saúde e paz, já começa o dia com duas.  

 
Em 2021, portanto, te convido a ser uma pessoa mais generosa com você; convido a cuidar mais dos momentos que você vive durante o dia ao ter um olhar mais carinhoso por tudo o que você faz, fala, age e experimenta. A gente sabe que nem todos os dias são bons, mas e todos os outros? Celebrar apenas um dia perfeito é desperdiçar vida.  
 
A melhor notícia sobre isso é: não custa 1 real e depende de 1 passo seu. 
 
Saúde, paz e boas notícias. 
(hoje, por exemplo, consegui pregar uns 10 pregos que estavam entortando e achei que não conseguiria). 
 
Um beijo. 
Márcio Rodrigues. 
@marciorodriguees 

Perder para valorizar

Eu percebi só depois. 
Depois que a gente parou de se falar eu comecei a perceber um monte de coisa. 
Comecei a sentir um monte de falta. 
Falta de dos seus elogios carinhosos sem motivos aparentes; das suas propostas para o que fazer no fim de semana; de todas as vezes em que fez questão de fazer a pipoca. 
São essas coisas que ficam na cabeça da gente. 
Tem também a falta do beijo, tem a falta da cama, mas a falta da pessoa é a que mais machuca. 
Porque se trata da falta de um jeito. No caso, do seu jeito. 

Eu estou aqui para assumir que só depois que a gente se transformou em fim que eu percebi como queria voltar para aquele primeiro dia do sim. 
 
Aquele dia que a gente começou. 
E a gente foi se descobrindo. 
Um pouquinho por segundo. 
 
É um desafio lembrar das partes boas quando a gente está influenciado pelas ruins para tomar uma decisão. Me apeguei demais aos nossos desgastes que culminarem no fim. Na minha cabeça, no entanto, a melhor decisão seria a gente se afastar porque não estava funcionando. Eu nem exatamente me arrependo disso porque foi algo que eu senti que faria sentido, o problema foi colocar na balança só alguns sentimentos de uma história inteira. 
 
A nossa história terminou por uma porção de coisas que se resumem em desgaste e pouca energia para manutenção. Mas eu erraria se tentasse resumir nossa história a isso. A gente foi mais. E é desse mais que hoje eu, um pouquinho por segundo, eu sinto falta. 
 
Das mensagens. Das trocas de memes. Dos shows que a gente foi. 
De como você parecia colocar cor na minha rotina cinza. Depois do fim comecei a perceber que os melhores momentos dos meus dias nos últimos meses tiveram relação direta ou indiretamente com você.  
 
As pessoas que passaram pela minha vida antes de você também me deixaram lembranças boas e algumas faltas – e acho que é natural. O ponto aqui é que estou sentindo muita falta de como você é e, de fato, de como eu sou quando estou com você. É o tipo de coisa que eu não lembro mais direto como me senti com outras pessoas – vai ver porque o seu papel na minha vida era mostrar que o lugar do passado é no passado, e assim, evitar qualquer comparação. 
 
Não vou conseguir te comparar. 
A falta que sinto hoje não lembro muito de sentir antes. 
O alívio que senti pelo fim do desgaste perdeu lugar para um vazio de querer você aqui de novo. 
Eu não sei muito bem como vai dar esse assunto, mas se tem uma coisa que aprendi com você foi: “não guarde dentro de você uma coisa boa sobre alguém porque o que alimenta também apodrece.”  
Então eu vou te contar. 
Que eu percebi só depois. 
O valor que você tem e como você sempre soube me dar valor. Eu é que estava em outra frequência e na época fazia sentido.
Só não faz mais.

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por Márcio Rodrigues
umtravesseiroparadois@gmail.com

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